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Foto do escritorcleudsonvieira

Yoga no Parque

Atualizado: 2 de mai. de 2023


Dia desses estava no Parque e não pude conter a emoção, foi demais pra mim, chorei feito um beradeiro. Foi como na entrega de uma medalha olímpica em que o atleta não consegue conter a emoção e se derrete em lágrimas. Mas antes de causar um estranhamento social e achar pra lá de esquisito um cara de 36 anos de idade, de 1,80 de altura se derreter em choro, devo admitir uma coisa – chorei por dentro. Me emocionei demais naquele dia. Sempre gostei da cor das palavras, do cheiro das palavras, dos assovios da Natureza, da personalidade das coisas não ditas e dos sentimentos que elas provocam. No Parque Circuito parece que essas expressões passeiam de mãos dadas, começam na entrada do portão principal. Ao atravessá-lo já estará no parque, porém, apenas desfrutará de uma partícula da Natureza ou de um caminho de acesso ao espetáculo Natural - era isso que pensava quando saia da avenida e fazia o retorno para entrar no parque -, até perceber que existe outro parque dentro do parque. Por ser um lugar de passagem, uma passarela, a expectativa é chegar logo no outro lado, por isso eu o via simplesmente como um estacionamento, um acesso rápido. Não sabia da sua existência, embora quase todos os fins de semana estivesse por lá. É maravilhoso conhecer novos lugares, demorar os olhos numa extensão de amor e redescobrir raras fotografias no amor paisagem. No dia que conheci esse outro parque, ventava. Ainda estava na Avenida Lauro Sodré, em Porto Velho, e observei a extensa área murada ao redor do local, o asfalto da Av. que fazia companhia com a calçada e o muro que delimitava a sua extensão sem impedir a vista arborizada. Olhei para a fachada principal, um letreiro de aço cromado indicava: "Parque Dr. José Adelino." Não pensei duas vezes, entrei. Ao passar do primeiro portão, avistei a segunda fachada, pois eles ficavam um de frente para o outro. Ainda no segundo portão, um letreiro de aço com pintura azul fosco veio me apresentar seu nome popular, chamado - "Parque Circuito." Nesse segundo acesso, uma árvore gigante divinamente moldada encobre toda a entrada da fachada frontal. Uma estrutura metálica com duas colunas, cerca de 7 metros de altura, evidencia o início e fim da fachada, um desenho com formato de tobogã de parque aquático - entre as colunas – desliza de cima para baixo, de uma ponta a outra e colore a composição da entrada. A estrutura do portal harmoniza suas tonalidades com as cores da Natureza ora verde-claro ora verde grama. A árvore que encobre essa segunda fachada, dança, rebola e estremece os galhos, um jeito natural de dizer - sejam bem-vindos, vocês são meus convidados. Quando entrei no parque diferente das outras vezes, não fui direto ao segundo portão, parei entre eles e observei o cenário. Fiquei encantando, o coração ficou apressado, começou a pulsar mais forte. Olhei maravilhado para Céu e agradeci: muito obrigado por este encantado cenário. Observei a ruazinha entorno do parque, um extenso cercado estilo fazendinha parecida com as amostras expostas em uma vitrine como das vezes que estamos em viagem e passamos em frente a uma fazenda, olhamos pela janela do carro as palmeiras de mãos dadas, o cercadinho que limita o acesso, mas não esconde a natural beleza da paisagem. Resolvi dar uma volta nesse novo parque e a cada passada da caminhada ficava mais emocionado com as descobertas. Um bosque novinho em folha com novas árvores - imensas árvores espinhosas, árvores espalhafatosas -, e os novos assentos próximos às calçadas esperando calmamente seus convidados. Dei umas voltas nesse primeiro parque, caminhei no asfalto, na calçada, algumas vezes parei e descansei debaixo de uma árvore. Depois entrei no parque do meio. Para adentrá-lo, tinha a escolha de levantar os arames do cercado e atravessar ou caminhar mais um pouco até chegar ao portão principal. Escolhi a segunda opção. Olhei para cima e as árvores se agitavam, entendi a mensagem, e mais uma vez fiquei grato. Nesse segundo parque não há asfalto, o chão é coberto em algumas partes por pedrinhas de brita, em outras, por areia. As faixas sonoras emitidas pelos calçados quando tocam o chão variam de acordo com as pisadas da caminhada ou corrida, e de acordo com o formato do calçado e usufruto do lazer. Ao seguir em frente, encontrará um espaço com várias duchas, um convite à refrescância para os dias de Sol (já adianto, aqui é a Cidade do Sol). Mantendo o olhar no horizonte, verá um mini museu, um memorial em homenagem aos seringueiros de Rondônia. Para chegar a essa casa, passará por uma calçada de concreto e uma rampa de madeira que dará acesso a casa-árvore. Ela está acima do solo, suspensa no ar, semelhante às casas dos trabalhadores – da região amazônica – feitas na época da extração da borracha, estrutura de madeira e cobertura de palha. Voltei a olhar para outras belezas, a assistir às curvas da trilha, às cambalhotas e saltos do pó de brita. À medida que as pessoas iam tocando com os pés no chão, observei que uma pequena coreografia movimentava o solo e formava um mini redemoinho no ar. Achei tão bonito esse lança confete se exibindo. Contemplei as árvores de seringueira nas laterais da trilha, a pista arborizada com árvores que tocam o telhado azul-celeste. Entre as seringueiras, ipês rosa e amarelo decoram a pintura em aquarela. Fui andando, andando e avistei no horizonte cenas preciosas: equilíbrio da natureza, corpos em sintonia cósmica. Não sabia bem o que era. Aos poucos fui me aproximando e cheguei mais perto. Como uma orquestra sinfônica, uma maestrina ditava os assobios do Universo e movimentos sincronizados como ginástica artística embelezavam o parque. A Natureza retribuía, o vento ventava e fazia carinho nas árvores, em reciprocidade, as seringueiras dançavam; e as pessoas aplaudiam a exibição desse espetáculo. Quando cheguei bem perto, entendi. É um concerto de Yoga no Parque. Ao ficar de frente para o palco (ainda estava na trilha de pedra brita de frente para o gramado), observei que se preparavam para iniciar outro exercício. Em posição de meditação, a Professora falou: observe a postura, relaxa o corpo. Agora, respira, respira calmamente. Lembrei-me das vezes que me esparramo numa cadeira de qualquer jeito, quase dando cambalhota, sem nenhuma consciência corporal. Mas ao mesmo tempo em que se lembrava dessas manias de postura - um alívio ao sentimento de culpa -, recordei a última expressão: respira calmamente. Não aguentei, chorei. Fiquei emocionado. Peguei essas palavras pelas mãos, dei um abraço demorado e a levei pra passear. Eu amo as palavras, sou capaz de ficar horas, dias enormes namorando uma palavra. A mensagem da Professora foi um convite ao autoconhecimento para equilibrar corpo e mente. Também não demorou muito pra me lembrar dos áudios acelerados, da vida corrida, da falta de tempo pra quase tudo. Olhei para o relógio e estava há horas caminhando, e disse – preciso demorar mais vezes nesse lugar. Agora sei o porquê de tanto amar o Parque.

Amigos, daqui a pouco eu volto. Vou ali meditar. Tem vaga?


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