Vim correndo pra contar essa fofoca, digo, história. Ando com uma preguiça danada de ligar o computador para falar dessas coisas, das minibelezas que estão por aí ou coladinha em nós e a gente nem vê. Que coisa, ein!
Antes de anunciar esta declaração, como diz o título - declaração amorosa - , quero falar o porquê só hoje resolvi tocar nesse assunto. Esses dias o Joel, amigo de longa data, quis saber se eu parei de escrever. Fiquei pensando no motivo da pergunta. Senti-me como um escritor que publica um livro e o público espera ansiosamente pelo próximo lançamento. De fato, eu precisava voltar, por isso vim ligeiro contar essa fofoca, ou melhor, crônica.
Agora estou aqui de frente para a tela do computador, uma luz banha minhas memórias, um vento entra pela janela e percorre caminhos de outrora. Como escreveu Adélia Prado: “Meu coração bate como as asas de um pássaro em pleno voo.” Neste instante os convido a degustar um café ou vinho ou cerveja ou coquetel de frutas preferido. Estudos comprovam que os passeios ficam mais saborosos quando a travessia das linhas é feita na companhia de uma bebida fria ou quente.
Também acho importante dizer onde eu estava no dia da declaração, desse modo, se localizarão melhor no contexto. De uns tempos pra cá minha cidade mudou muito. Porto Velho, mais conhecida como PVH, não é mais a mesma. Às vezes me sinto uma cidade. A superfície do corpo é outra, mas o coração continua o mesmo.
Quanto a PVH tem mais a ver com o nome das ruas, avenidas e pontos de referência. Antes a bússola de orientação era a beira do Rio Madeira. Bons tempos! Eu sabia o nome de todas as ruas, mas depois mudaram os nomes e tudo ficou como antes. Porque os nomes anteriores resistiram, viraram clássicos e continuam sendo chamados pelo antigo nome. Exemplo disso é a Avenida Rio Madeira que mudou de nome, mas continua homenageando o Rio.
Atualmente o ponto de referência é o Shopping da cidade. Para se localizarem, é comum as pessoas perguntarem se é antes ou depois do shopping. Não tem erro, falou que é próximo desse centro comercial, o destino é cumprido com sucesso.
Eu sei que prometi dizer onde estava. Nesse dia, havia combinado com uma amiga de ir num local que fica a 2 km do shopping, o Restaurante Adélia Prado. Quem sabe o nome seja outro. Talvez, numa pesquisa rápida, o Google Maps o identifique com outro nome. Qualquer coisa coloque na conta do cronista.
Às 20 horas cheguei ao local. O restaurante era identificado com uma placa luminosa num formato de circunferência. As letras grandes no meio da placa sinalizavam o nome do local “ADÉLIA” e embaixo desse nome folhas de palmeiras mostravam o formato interno do ambiente, semelhante a um triângulo apontado para baixo (em formato de V).
Na frente da Adélia, aproveitei para apreciar a paisagem. Dois jarros de plantas - com abundantes flores lilás - e mais duas palmeiras demarcavam a entrada do restaurante. Observei também que havia mais cinco palmeiras como se estivessem em fila delimitando a fachada campestre do local.
Nessa hora me lembrei dos versinhos de Paulo Leminski “as palmeiras estremecem / palmas pra elas / que elas merecem.” Pensei, então é isso, o remexido das folhas, as luzes internas que afloravam a composição externa, eram luzes de saudação, gestos de cumprimento. Depois desses graciosos afetos, entrei no restaurante.
Escolhi uma mesa e fiquei observando o cenário: a sincronização das plantas, as luzes quentes e o aconchego do som amadeirado. E do nada, como num grande mistério, falei em voz alta “mesas, cadeiras rústicas e almofadas” como se lapidassem palavras para montar um poema. Lembrei-me das faíscas de embelezamento descritas pela poeta mineira, Adélia Prado, quando disse: “De vez em quando, olho pedra e vejo uma bola bonita caminhando solta no espaço." Sobre o olhar poético, William Blake, poeta inglês, também descreveu: “Vê o mundo num grão de areia e um céu numa flor silvestre.” Sim, o cenário daquele lugar me deixou fascinado.
Após 30 minutos, minha amiga chegou. Ela estava bem animada. Falou da trajetória dos estudos, das dificuldades do caminho, das renúncias que fez para alcançar o sonho, e completou dizendo que estava muito feliz em me ver.
Continuou narrando os acontecimentos ora tristes ora bonitos. De repente falou - é aquilo que Clarice Lispector afirmou “qualquer um pode amar uma rosa, mas é preciso um grande coração para incluir os espinhos.” Que coisa maravilhosa! Não aguentei ficar só olhando, mergulhei no oceano das palavras. Comecei a pensar numa rosa, a flor, nesse caso, seria aquilo que a gente mais gostaria de conseguir, mas no caminho até a roseira teria muitos espinhos (...). Fui interrompido por um toque carinhoso no ombro “Cleudson” e voltei.
Nessa hora, procurei palavras bonitas, um pensamento, algo que expressasse minha grande admiração por ela. Ouvi dizer que os poetas têm esse “dom.” Como eu queria ser poeta. O que me veio foi aquela expressão quase universal, então eu disse - é por isso que “eu te amo.”
Um silêncio profundo se fez no ambiente. Minha amiga ficou me olhando boquiaberta, a bochecha mudou de cor, a expressão do rosto mudou rapidamente. Essa cena durou um minuto, o suficiente para guardá-la na memória.
Hoje me lembrei dessa declaração amorosa e, pensando bem, se fosse falar outra coisa, eu escolheria infinitas maneiras de dizer “Eu Te Amo.”
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